terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Mudaram as estações


Para ler ouvindo: Cássia Eller - Por Enquanto


Dia desses estava conversando com um querido amigo e filosofando sobre a vida. De repente, começamos a conversar sobre mudanças, sobre “virar a mesa”, enfim, sobre dar um novo rumo às nossas vidas.

Alguns desses rumos são, independentes da nossa vontade, tomados pela própria vida, como contrair um resfriado. Já outros, bem mais dependentes, esperam que a gente pare, reflita e decida. E isso pode acontecer desde uma simples mudança no visual até a troca de um emprego. São acontecimentos que o destino pode nos levar até eles, mas que a decisão final será nossa, só nossa.

Voltando à conversa, meu amigo chamou a minha atenção para a quebra de paradigmas. Me “catucou” com um: por que temos que fazer tudo igual aos outros? Daí, sem querer, me deparei com esse texto (abaixo) e vi como tinha a ver com a nossa conversa. Um dos trechos que mais gosto é “lembre-se de que a Vida é uma só”. E é mesmo, por isso é muito importante aprender a curtir momentos, a tirar proveito deles. Boa leitura e que uma nova consciência seja despertada!

Mude
de Edson Marques

Mude, mas comece devagar,
porque a direção é mais importante
que a velocidade.

Sente-se em outra cadeira,
no outro lado da mesa.
Mais tarde, mude de mesa.

Quando sair,
procure andar pelo outro lado da rua.
Depois, mude de caminho,
ande por outras ruas,
calmamente,
observando com atenção
os lugares por onde
você passa.

Tome outros ônibus.
Mude por uns tempos o estilo das roupas.
Dê os seus sapatos velhos.
Procure andar descalço alguns dias.

Tire uma tarde inteira
para passear livremente na praia,
ou no parque,
e ouvir o canto dos passarinhos.

Veja o mundo de outras perspectivas.
Abra e feche as gavetas
e portas com a mão esquerda.

Durma no outro lado da cama...
depois, procure dormir em outras camas.

Assista a outros programas de tv,
compre outros jornais...
leia outros livros,
Viva outros romances.

Não faça do hábito um estilo de vida.
Ame a novidade.
Durma mais tarde.
Durma mais cedo.

Aprenda uma palavra nova por dia
numa outra língua.
Corrija a postura.
Coma um pouco menos,
escolha comidas diferentes,
novos temperos, novas cores,
novas delícias.

Tente o novo todo dia.
o novo lado,
o novo método,
o novo sabor,
o novo jeito,
o novo prazer,
o novo amor.
a nova vida.

Tente.
Busque novos amigos.
Tente novos amores.
Faça novas relações.

Almoce em outros locais,
vá a outros restaurantes,
tome outro tipo de bebida
compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo,
jante mais tarde ou vice-versa.

Escolha outro mercado...
outra marca de sabonete,
outro creme dental...
tome banho em novos horários.

Use canetas de outras cores.
Vá passear em outros lugares.
Ame muito,
cada vez mais,
de modos diferentes.

Troque de bolsa,
de carteira,
de malas,
troque de carro,
compre novos óculos,
escreva outras poesias.

Jogue os velhos relógios,
quebre delicadamente
esses horrorosos despertadores.

Abra conta em outro banco.
Vá a outros cinemas,
outros cabeleireiros,
outros teatros,
visite novos museus.

Mude.
Lembre-se de que a Vida é uma só.
E pense seriamente em arrumar um outro emprego,
uma nova ocupação,
um trabalho mais light,
mais prazeroso,
mais digno,
mais humano.

Se você não encontrar razões para ser livre,
invente-as.
Seja criativo.

E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa,
longa, se possível sem destino.

Experimente coisas novas.
Troque novamente.
Mude, de novo.
Experimente outra vez.

Você certamente conhecerá coisas melhores
e coisas piores do que as já conhecidas,
mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança,
o movimento,
o dinamismo,
a energia.
Só o que está morto não muda !

Repito por pura alegria de viver:
a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não
vale a pena!!!! (Clarice Lispector)

Esse texto tem uma polêmica, com relação a autoria dele. Mas aqui está o esclarecimento:

*Uma história mal contada

Em 2001, a agência publicitária Leo Burnett criou uma campanha para comemorar os 25 anos da Fiat no Brasil. Um dos pontos altos do comercial era um belíssimo poema sendo narrado em off. Em release divulgado pela agência, o poema é atribuído à Clarice Lispector. Uma matéria no Estado de S.Paulo chegava a dizer: "O publicitário Alexandre Skaff mergulhou na obra de Clarice Lispector e achou inspiração nos versos de ‘Mude’ para criar o filme de 25 anos da Fiat".

Entretanto, o poema "Mude", de larga circulação na internet, já foi atribuído, além de Clarice, também a Paulo Coelho e a Cecília Meireles. Paulo Coelho, com integridade, elogiou o poema mas não o reconheceu como seu. Cecília e Clarice, falecidas, não tiveram chance de fazer o mesmo.

O poeta Edson Marques afirma ser o autor do poema, registrado por ele na Biblioteca Nacional. Além disso, "Mude" também já foi interpretada por Antonio Abujamra, na peça Mefistófeles, e por Pedro Bial, no CD Filtro Solar, da Sony Music, sempre creditada a Edson Marques. Matéria da Veja, de julho de 2003, também cita a poesia "Mude" como sendo de Edson, apesar de comumente atribuída a Clarice.

Talvez tudo seria mais fácil se Edson fosse um autor à moda antiga. Mas "Mude" nunca foi publicada em meio impresso. A poesia existe na internet, nos sites de Edson e em diversos outros sites que a atribuem a ele.

**Neste poema (Mude) o autor, Edson Marques, utilizou uma frase de Clarice ao final do texto e, corretamente, creditou a frase (e apenas a frase) à autora.

Fonte: *Observatório da Imprensa.
** F
aculdade de Medicina/UFG

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Afinal, o que é o Carnaval?


Como essa semana não havia atualizado o blog, resolvi retornar com um texto sobre o carnaval. Afinal, a quarta-feira de cinzas não marca mais o fim do carnaval, uma vez que muitos blocos ainda desfilam nesse final de semana.

Bom, voltando a pergunta do título... Que o Carnaval é uma das festas mais esperadas do ano, isso todo mundo já sabe. Mas qual o poder dele sobre as pessoas?

Problemas são esquecidos e inimizades também. “Olinda quero cantar” em uma só voz. Homens se vestem de mulheres, pessoas assumem personagens diferentes daqueles que encarnam no dia-a-dia e saem para folia. São Mulheres-Maravilhas, Bobs Esponjas, Bailarinas, Palhacinhos e até os sanduíches da Mc Donald’s viram tema dos fantasiados. O que vale é brincar. Brincar além da quarta-feira de cinzas, afinal espera-se, em média, 364 dias no ano para a chegada dessa festa.

Realmente, o Carnaval é o circo (pão e circo) do brasileiro. Um circo inebriante e, muitas vezes, regado a álcool, entre outras drogas.

Em todo o país, cada um comemora do seu jeito. Uns dançam frevo, outros sambam e outros vão “atrás do caminhão.” Tem gente que paga e paga caro para estar ali, mas tem gente que com pouco já faz a festa. Mas também existem aqueles que são avessos à folia e preferem viajar para um lugar mais calmo ou até mesmo ficar quieto no seu canto.

“Quanto brilho, ó, quanta alegria”, mas tem sempre aqueles que se sentem incomodados com a festa alheia e acabam gerando dados negativos para o pós-carnaval, tais como: 70 homicídios, aumento em 8% dos atendimentos nas grandes emergências, 295 ônibus depredados (maior índice em três anos)*.

Então, o Carnaval é um misto disso tudo.

*Os dados acima citados foram divulgados pela Secretaria de Defesa Social, Secretaria Estadual de Saúde e Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos, respectivamente.

Foto: Divulgação/Irandi Souza

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

A que ponto chegamos?


Não podia deixar de comentar a brutal violência ocorrida na quarta-feira, dia 07 de fevereiro, no Rio de Janeiro. O garoto João Hélio Fernandes, de apenas 6 anos, foi arrastado até a morte, pendurado do lado de fora do carro roubado de sua mãe, pelas ruas de quatro bairros da Zona Norte carioca. No dia seguinte, por volta das 15h, foram presos dois suspeitos: Diego Nascimento da Silva, de 18 anos e E., de 16 anos.

Segundo matéria publicada, sexta-feira (09), na Folha de Pernambuco, o crime causou comoção até entre os policiais e o “Disque-Denúncia recebeu 24 telefonemas e anunciou recompensa de R$ 2 mil. Pessoas telefonaram e se ofereceram para pagar a recompensa. O valor subiu para R$ 4 mil.”

Diego Nascimento da Silva, de 18 anos, confessou ter dirigido o Corsa roubado, mas disse que não percebeu que a criança estava preso ao cinto de segurança. Ele já foi acusado de latrocínio, cometido quando era menor de idade. Pela morte de João, ele pode ser condenado a até 30 anos de prisão.

O que mais me chocou foi a frieza desse rapaz ao responder aos repórteres se sentia remorso pelo sofrimento dos pais de João. Ele simplesmente disse: “eu não tenho filho”.
Seis dias após a morte de João Hélio, a decoradora Márcia Monteiro sentiu na pele a mesma aflição de Rosa Fernandes (mãe de Hélio), embora com um final menos triste. Ela afirmou que voltava do trabalho em Quintino, com o filho e uma amiga quando foi fechada por um veículo com dois homens armados. Em matéria publicado no Portal G1, ela disse que ficou desesperada e só se lembrava do menino sendo arrastado. “Os assaltantes berravam cheios de raiva: rápido. Quem manda aqui sou eu!”, completou a decoradora.
Por que tanta violência? Como resolver isso? Reduzir a maioridade penal?? Quer dizer que agora todos nós seremos obrigados a andar mais amedrontados ainda?

Hoje, os jornais divulgaram a notícia de que a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado discutirá, na quarta-feira (14), a redução da maioridade penal. A inclusão do assunto na pauta da comissão foi determinada pelo senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), que é favorável à redução da maioridade para 16 anos, de acordo com informações da Agência Senado.

Em contrapartida, a presidente do Supremo Tribunal Federal, Ellen Gracie, voltou a criticar o posicionamento do Congresso de só discutir medidas de combate à violência quando fatos como a morte do menino João Hélio Fernandes, 6, de grande comoção nacional, ocorrem. Segundo ela, esses temas não podem ser discutidos "em clima de forte emoção".

Concordo com a ministra, mas fazer o quê se no Brasil tudo só se resolve assim, em cima da hora. Sem contar que a redução da maioridade penal faz parte de temas polêmicos, como o aborto e a pena de morte. Será que isso irá resolver alguma coisa? Pode até ajudar, é verdade, no entanto, mais uma vez, estamos diante de uma solução paliativa. Por que não melhorar nossos serviços públicos, como educação, saúde, lazer e assim diminuir a desigualdade social?

Ah, meu Brasil, “pau que nasce torto...”

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Povão ou camarote?


Lendo o Jornal do Commercio (PE) de hoje, me deparei com o seguinte comentário do colunista Orismar Rodrigues:

Apartheid no Galo?

Diante da declaração do prefeito de que a corda em bloco de Carnaval é um apartheid social, os oposicionistas estão se perguntando: “O prefeito vai brincar o Galo da Madrugada no meio do povão, em plena Guararapes, ou vai ficar no camarote, vendo tudo do alto, regado a comidinhas e bebidinhas?”

Realmente, uma boa pergunta. Se os cordões de isolamento são apartheid social, o que dizer então dos camarotes, em especial esses organizados por grandes empresas e órgãos públicos.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

A culpa foi do cordão...


Avenida Boa Viagem, Recife, domingo, dia 03 de fevereiro. O clima era para ser de uma bonita festa: descontração, pessoas animadas. No entanto, não foi isso que foi visto no desfile do bloco Balança Rolha. O desfilou aconteceu alguns anos após o fim do Bloco da Parceria (que acontecia nessa mesma época do ano) e do Recifolia (que acontecia nos meses de Outubro). Em nenhuma dessas festas foi registrada tamanha violência, como essa de domingo.

As autoridades deram suas justificativas para o ocorrido: policiamento insuficiente (inicialmente, 215 homens foram distribuídos nas imediações do evento), erro na estimativa do número de foliões (presença aproximada de 100 mil pessoas, quando, segundo os cálculos do comandante do 19º Batalhão de Polícia Militar, Edilson Monteiro, responsável pelo policiamento da Zona Sul da cidade, havia 200 mil pessoas no local).

Sinceramente, é muita ingenuidade achar que em um evento com uma das cantoras mais aclamadas da música brasileira atual, como Ivete Sangalo, iria atrair só 100 mil pessoas. Havia um outro evento acontecendo, simultaneamente, só que em Olinda: o desfile das Virgens de Verdade. Lá o clima foi de tranqüilidade. Por que será hein? Segundo o comandante Edilson Monteiro, a briga entre galeras tomou conta do local. “Não havia gente de bem metida naquelas brigas.” E isso é sabido. Basta assistir às imagens registradas pelas emissoras de televisão que se percebe o mesmo grupo presente em, praticamente, todas as confusões.

Como nesse país, os políticos costumam dar apenas soluções paliativas para os problemas da sociedade, aqui surge mais uma: a Prefeitura da Cidade do Recife resolveu pôr um fim aos blocos que desfilem com cordão de isolamento. A secretária de Gestão Estratégica e Comunicação do Recife, Lygia Falcão, classificou o desfile de blocos com cordão de isolamento como um formato excludente e que não faz parte da cultura do Carnaval da cidade. Ou seja, é melhor proibir esse tipo de festa para evitar brigas, do que aumentar o efetivo de policias, do que prepará-los melhor... Concordo quando ela diz que esse tipo de bloco “não faz parte da cultura do Carnaval da cidade.” No entanto, todos os anos é assim que o Carnaval de Salvador acontece e sem maiores transtornos. Logo, mais uma prova da falta de organização do evento.

Por outro lado, a direção do Bloco Balança Rolha já havia decidido, mesmo antes de saber da proibição imposta pela prefeitura, que a agremiação não iria mais fazer desfile de rua. O diretor-executivo do bloco, André Cavalcanti, acredita que o cordão de isolamento serviu para acirrar os ânimos entre as pessoas que estavam do lado de fora, a chamada pipoca. Mas “isso não é justificativa para tanta violência. As pessoas foram com a intenção de brigar”, disse Cavalcanti.A notícia, infelizmente, teve repercussão nacional, tendo uma matéria exibida no Fantástico, da Rede Globo. Esse tipo de veiculação negativa, às vésperas do Carnaval, é muito ruim para o estado de Pernambuco, uma vez que essa é uma das épocas do ano em que mais se atraem turistas. Lamentável.

*Foto: Rodrigo Lôbo/JC Imagem

No escurinho do cinema

Por que muitas vezes fazemos comentários tão óbvios? Você já parou para pensar, por exemplo, no que se diz logo após o fim da exibição de um filme. Geralmente a primeira coisa que se ouve ou se diz é: "gostou do filme?" Ou então, se sentir o próprio crítico de cinema: "eu achei o filme muito previsível" ou "a fotografia estava muito, não".

Atire a primeira pedra quem nunca disse algo do gênero ou, pelo menos, pensou em dizer. É praticamente inevitável. Há um certo tempo atrás vivi uma situação dessa, bem clássica. Havia ido ao cinema com mais três amigos. Nesse dia, tenho que confessar, estava sem muita paciência. Pois bem, vimos o filme (era um dos três da série Matrix, se não me engano, foi o segundo) e logo na saída, um dos meus amigos disparou: "gostaram do filme? Eu esperava mais. Preferi o primeiro." Hunf! Por que as pessoas só repetem o que os outros fazem? Por que não inovam, tentam fazer diferente?

Outra situação muito recorrente às salas de exibição é se levantar assim que os créditos aparecem na tela, que as luzes se acendem e as portas se abrem. Poxa, passamos uma hora ou mais sentados, no escurinho, com ar-condicionado e quando tudo termina temos que nos levantar às pressas? Ahhh não, não concordo com isso não. E percebo que as pessoas que se sentaram nas cadeiras da mesma fileira que eu ficam um pouco incomodados com isso. Não têm paciência de fazer como eu: se espreguiçar, ligar o celular e depois de alguns minutos, aí sim, se levantar e ir embora. Pra que pressa? Só para tumultuar ainda mais a porta da saída?

Eu hein, pessoas apressadas. Até a próxima.